Cirurgia Para Epilepsia? Pode Resolver Meu Problema? Não É Arriscado?
QUANDO AS CRISES CONTINUAM APESAR DO TRATAMENTO
Muitas pessoas com epilepsia terão controle das crises com as medicações, sendo a maioria com a primeira medicação.
Uma segunda medicação ou até uma terceira podem ser utilizadas, de forma isolada ou associadas. É importante que essas medicações sejam utilizadas em doses e combinações adequadas.
Mas sabemos que quando as crises continuam, depois da segunda ou terceira medicação, a chance de ficar sem crises somente com medicamentos é muito pequena, por volta de 3%.
Essa situação é chamada de epilepsia refratária ou farmacorresistente e pode acontecer em aproximadamente 30% dos casos. Por ser bem frequente, deve ser reconhecida para que as pessoas tenham oportunidade de receber melhores tratamentos.
O QUE FAZER QUANDO AS CRISES CONTINUAM COM A MEDICAÇÃO?
Para as pessoas que mantêm crises é recomendado que sejam avaliadas em centros especializados, por um neurologista clínico adulto ou infantil, especialista em Epilepsia.
Esses especialistas têm maior experiência e estão capacitados para tratar esses casos, que são um verdadeiro desafio. Eles terão segurança para propor novos tratamentos, alguns mais complicados. Manter tratamentos apenas com medicações, sem buscar novas opções, não é a melhor opção. Continuar com as crises leva a diversas consequências como alterações no aprendizado e capacidades mentais, maior risco de problemas emocionais, risco de acidentes e lesões, consequências sociais – não poder dirigir, dificuldade para conseguir e manter o trabalho, etc.
COMO FUNCIONA A AVALIAÇÃO NESSES CASOS?
O passo inicial é uma avaliação clínica pelo neurologista ou neuropediatra especialista em epilepsia. Serão realizados exames para definir o tipo e onde as crises se iniciam no cérebro.
Um dos principais exames é o vídeo-EEG (ou vídeo-eletroencefalograma), que é um eletroencefalograma mais longo, feito com o paciente internado e gravando as imagens do que está acontecendo de forma simultânea, para se analisar o que acontece no cérebro e o que a pessoa apresenta. Essa avaliação, junto com outros exames como a ressonância magnética de crânio, exames de imagem que avaliam o funcionamento cerebral (PET, SPECT), testes neuropsicológicos, dão informações sobre a região de início das crises no cérebro. Sabendo-se com segurança onde as crises se iniciam e que essa área pode ser operada sem deixar sequelas, a equipe conversará com a pessoa e familiares sobre a proposta da cirurgia. Existem muitos tipos de cirurgias para epilepsia, motivo para outra conversa.
Alguns casos necessitarão de avaliação mais complicada, em que será necessária uma cirurgia para colocar pequenos contatos ou fios, chamados de eletrodos, dentro do cérebro, para permitir uma melhor localização do foco das crises.
QUEM PODERÁ FAZER CIRURGIA?
A cirurgia de epilepsia é para as pessoas que continuam com crises apesar dos medicamentos. Como foi explicado antes, não é preciso testar todos os medicamentos existentes, sabemos que após tentar 2 ou 3 medicamentos, se as crises continuam, outras opções como a cirurgia devem ser pensadas.
Nos casos em que podemos definir onde as crises começam e a retirada dessa região não levará a sequelas, a cirurgia pode ser feita. Mas muitos vão se perguntar se isso não é perigoso… A resposta é que esse é um tipo de cirurgia só deverá ser feita por médicos com experiência na área e em centros especializados, que se toda a avaliação for realizada de maneira adequada os riscos são muito baixos. Também devemos lembrar que as crises têm seus riscos, e como a pessoa continua com crises por anos, o risco ao longo do tempo é muito maior de continuar com as crises do que o risco da cirurgia, inclusive de morte. Isso já foi provado por estudos! Ter medo de uma cirurgia feita após adequada avaliação não é algo que não se justifica baseado nos conhecimentos científicos.
Mas nem todos poderão fazer a cirurgia em que se retira a parte do cérebro responsável por causar as crises. Nesses casos, outras opções de cirurgia, como o uso de aparelhos que estimulam o nervo vago ou diretamente o cérebro, podem ajudar.A cirurgia para epilepsia apresenta resultados muito bons, comprovados por estudos científicos, e muito melhores do que se poderia obter com tentativa de novos medicamentos. Pessoas com epilepsia que operam conseguem muitos ganhos para sua qualidade de vida.